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Como estimular o uso do transporte coletivo?

• Roberto Gregório - Vice-Presidente de Mobilidade Urbana do ISCBA
Aug 12, 2022

Este artigo é uma sinopse das contribuições apresentadas na Reunião Estratégica no 8 do Smart City Business Brazil Congress 2022, realizado em São Paulo, no dia 25 de maio de 2022. Essa reunião tratou sobre alternativas para estimular o uso do transporte coletivo e contou com a participação gestores públicos e privados, bem como com especialistas do setor.


O advento da pandemia da Covid-19 acentuou a queda na demanda dos serviços de transporte coletivo que já era observada nas grandes cidades nos últimos anos. Além da perda de receita, esse fenômeno tem gerado diversos problemas, tais como o crescimento do tráfego urbano, aumento na emissão de poluentes e a necessidade de maior subsídio ao transporte público.


Um dos pontos iniciais destacados na reunião foi o fato de que um transporte melhor não significa necessariamente um transporte mais atrativo. Para atrair mais passageiros é necessário gastar mais, o que poucas vezes aconteceu com o transporte por ônibus no país. E isso, também exige planejamento de longo prazo, praticamente inexistente no setor.


Quem vai pagar pelo transporte deve ter a sensação de receber um serviço com mais qualidade e, para isso, é necessário melhorar sua imagem. É possível divulgar as contribuições do transporte coletivo para o desenvolvimento sustentável das cidades e a sua capacidade para agregar valor aos deslocamentos. Por outro lado, também devem ser comunicados os desafios e as características do sistema de transporte. Por exemplo, o horário de pico é planejado para a lotação máxima e isso deve ser devidamente informado à população.


Para valorizar e melhorar a imagem do transporte público é necessário intensificar a comunicação com a sociedade, clientes e formadores de opinião. É possível utilizá-la para recuperar e atrair passageiros, como é o caso da nova geração que está chegando ao mercado. Ela pode ser conscientizada da importância e do valor social agregado pelo transporte coletivo, cabendo lembrar que muitos jovens, mesmo diante das dificuldades econômicas, ainda desejam seu próprio carro.


Também, para estimular o uso do transporte coletivo é necessário tratar a mobilidade como serviço, tendo os passageiros como o centro das decisões. O usuário, aquele que não tem opção de escolha, é diferente do cliente que pode escolha o serviço que vai utilizar. Falta trabalhar o marketing de serviço; bem como, buscar conhecer o “valor” que a população espera receber no transporte coletivo.


Além disso, cabe lembrar que a Lei de Mobilidade no 12.587/2012, em seu art. 14, incisos I e II, prevê que os usuários do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana têm o direito de “receber serviço adequado” e de “participar do planejamento, da fiscalização e da avaliação da política local de mobilidade urbana”.


Assim, um dos desafios da atualidade é oferecer às cidades soluções de mobilidade que sejam construídas coletivamente, com participação do poder público, concessionárias, segmentos organizados e população. Ressalta-se que é fundamental que tais soluções sejam baseadas no que as pessoas desejam e para isso é fundamental que elas possam dizer o que querem.


Por outro lado, considerando as limitações orçamentárias do poder público resta também importante desenvolver soluções para atrair investimentos privados para o setor. Nesse sentido, um esforço inicial deve ser dirigido para segregar os “papéis” institucionais, lembrando que a prestação dos serviços de transporte é privada, mas a responsabilidade por sua disponibilidade é do poder público.


Em especial cabe destacar que o risco da demanda não deve ser “empurrado” para as concessionárias, eis que ele é de difícil dimensionamento e de ser superado. Ao contrário das mercadorias, não há previsibilidade quando se trata do transporte de pessoas. Assim, a remuneração das concessionárias deve ser baseada na disponibilidade do serviço, eis que não há seguro para o risco da demanda.


Para serem atrativas, as concessões devem possibilitar a adequada remuneração das concessionárias, sendo o risco da demanda assumido pelo poder público. Caso contrário, a transferência desse risco à empresa privada implicará em maiores custos tarifários e, eventualmente, poderá significar a deterioração ou, até mesmo, a inexequibilidade da prestação dos serviços. 


Além disso, é necessário dispor de ferramentas jurídicas que propiciem maior segurança jurídica e, em especial, que permitam a flexibilização dos contratos visando eventuais ajustes durante a concessão. Em geral, os contratos vigoram por mais de uma década, período no qual surgem mudanças conjunturais, tecnológicas e até regulatórias não previstas na licitação.


Também, é necessário eliminar barreiras de acesso no setor, de tal forma que seja possível aumentar a concorrência. Entre as alternativas, está a redução do tamanho dos lotes a serem licitados, aumentando a chance de empresas menores participarem, e a transformação das garagens existentes em bens de interesse público a serem disponibilizadas ao proponente vencedor, dessa forma a posse desses ativos deixa de ser uma vantagem competitiva na licitação.


Podem, ainda, ser considerados novos modelos de contratação, nos quais sejam incluídos “novos negócios” como a exploração de ativos imobiliários, e até a concessão no modelo de “franquia”, no qual o poder público “manualiza” a operação do transporte e pode também fornecer o material rodante, cabendo à concessionária a operação dos serviços, propriamente ditos.


Para estimular o uso do transporte coletivo é, também, necessário obter maior eficiência operacional, gastar menos, gerar ganhos de escala e segregar as questões técnicas e financeiras. Para isso, deve-se melhorar a gestão das concessionárias e dos órgãos públicos fiscalizadores da concessão, bem como implantar sistemas de monitoramento e de controle das operações, inclusive com acesso público.


Além disso, é necessário administrar a “imobilidade” urbana, preenchendo as lacunas da mobilidade urbana com a integração modal, especialmente, na denominada “última milha”. Assim, será possível obter tarifas menores e até ampliar o atendimento, tornando o transporte coletivo mais atrativo para a população.


Dentro de um contexto mais amplo há também de se considerar a demanda reprimida. A população necessita de mais transporte e que seja mais eficiente, mais barato e mais rápido. Em países ricos, todas as parcelas da população utilizam o transporte público e esse é um desafio que precisa ser equacionado no país. Atualmente, com poucas exceções, quem usa e paga o transporte público no Brasil são as pessoas das classes “C” e “D”, enquanto os recursos públicos, muitas vezes, são utilizados para fazer ruas e estacionamentos para as classes “A” e “B”.


Bem ilustra tal contexto, a falta de trens. Com cerca de 12 milhões de habitantes, São Paulo possui apenas 100 km de ferrovias. De outro lado, com 4 milhões de habitantes, um quarto da população paulista, Madrid possui aproximadamente 280 km de ferrovias. Ou seja, São Paulo tem 8,3 km e Madrid 70 km de ferrovias para cada um milhão de habitantes.


No tocante ao planejamento urbano, deve ser dada atenção à priorização do transporte no sistema viário, via faixas exclusivas e semaforização, e ao uso do solo, através das centralidades para reduzir os deslocamentos por meio de espaços multifuncionais e autossuficientes, com equipamentos urbanos, postos de trabalho e locais de moradia.


As faixas exclusivas em geral, ainda são insuficientes, e quando são implantadas sofrem outras demandas de uso, deixando de ser exclusivas. Por exemplo, em São Paulo há 17 mil km de vias, das quais 5 mil km utilizadas pelo transporte coletivo sem nenhuma exclusividade. De outro lado, a exclusividade é bem avaliada pelos passageiros nessa cidade, como é o caso do expresso Tiradentes, que superou a avaliação do metrô.


Nas regiões metropolitanas também há o desafio de estruturar adequadamente as autoridades e competências relacionadas ao transporte coletivo integrado e de características urbanas. Há barreiras a serem superadas como o financiamento compartilhado, capacidade de gestão e a perda de poder municipal no contexto das soluções integradas.


Em especial, no caso brasileiro, há de se enfrentar o desafio do financiamento pois o modelo tradicional no qual os usuários são os únicos que respondem pelos custos operacionais já é parte do passado. Os desafios da mobilidade urbana têm soluções disponíveis, com projetos que podem melhorar a infraestrutura e a qualidade dos serviços. Porém são necessários recursos financeiros, tanto para custear a operação como realizar os investimentos necessários.


Para financiar o transporte coletivo podem ser consideradas alternativas como o pedágio urbano, os estacionamentos rotativos, a alteração da lei do Vale Transporte e a implantação da CIDE municipal sobre a gasolina e álcool utilizados nos veículos particulares. Também podem ser consideradas a apropriação da valorização dos imóveis ao longo dos eixos do transporte e a exploração dos ativos imobiliários do sistema, entre outras possibilidades.


Também há expectativas que o novo marco legal do transporte coletivo, que atualmente está sendo debatido, possa dar um novo folego ao setor. Entre outros aspectos, esse marco poderá contemplar a redução dos custos operacionais, a flexibilidade contratual, a redução das barreiras de entrada e dos riscos, o fortalecimento institucional, as fontes de financiamento, o planejamento de longo prazo, os dados abertos e a gestão transparente da concessão.


Concluindo, cabe ressaltar que estimular o uso do transporte coletivo demanda o combate à exclusão social via tarifas reduzidas ou até inexistentes, a construção de uma imagem de modernidade, a integração com outros modais, o aperfeiçoamento da regulação e o equacionamento do financiamento. Além disso, para os usuários também deve ser garantido o direito de escolha, o acesso à informação e à transparência, bem como, disponibilidade de serviços adequados e de qualidade.


Elaborado por:

  • Roberto Gregório da Silva Filho - Vice-Presidente de Mobilidade Urbana do ISCBA

 

Participaram da Reunião Estratégica e colaboraram para esse artigo:

  • Carolina Baima Cavalcante - Coordenadora Geral de Gestão de Empreendimentos do ministério do Desenvolvimento regional
  • Cel. Aluysio Queiroz - Gestor de Mobilidade Urbana e Transportes da Prefeitura de Jundiaí SP
  • Cláudio Senna Frederico - Vice-Presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP)
  • Francisco Christovam - Presidente Executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU)
  • Paulo Roberto Guimarães Júnior - Secretário de Mobilidade Urbana de São José dos Campos SP
  • Renato Meirelles - Presidente da CAF Brasil

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Por Maria Tereza Vellano - Vice-Presidente de Utilities do SCBA 13 out., 2024
Neste artigo, exploramos as principais conclusões do debate que discutiu como a digitalização das utilities, impulsionada pelas mudanças climáticas, está moldando o futuro das cidades e promovendo maior resiliência urbana. A crise climática está transformando a forma como as cidades e empresas lidam com os recursos naturais e a infraestrutura urbana. Em um cenário onde o aumento da temperatura global, eventos climáticos extremos e a escassez de recursos são cada vez mais frequentes, setores essenciais como água, gás e energia elétrica (as chamadas utilities) estão sob pressão para adotar modelos mais sustentáveis e eficientes. Para lidar com esses desafios, as tecnologias digitais emergiram como soluções poderosas, permitindo a otimização de recursos e facilitando o crescimento de cidades inteligentes. A transformação digital, impulsionada pela crise climática, tem se mostrado não apenas uma ferramenta para mitigar impactos ambientais, mas também um motor de inovação. Ao integrar tecnologias como Internet das Coisas (IoT), big data, inteligência artificial (IA) e redes elétricas inteligentes (smart grids), as utilities estão redesenhando a forma como gerenciam e distribuem recursos, enquanto as cidades inteligentes utilizam essas inovações para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Principais Desafios Apesar dos avanços, a transformação digital nas utilities enfrenta uma série de desafios complexos, tanto tecnológicos quanto estruturais. Entre os mais significativos, estão: Infraestrutura Obsoleta: Muitas redes de energia, água e gás em todo o mundo foram construídas décadas atrás e estão mal preparadas para lidar com as exigências atuais de eficiência e sustentabilidade. Atualizar essas infraestruturas envolve investimentos elevados e planejamentos cuidadosos. Gestão de Recursos Naturais: A escassez de água e as mudanças na distribuição de fontes de energia renováveis criam desafios para o fornecimento estável e confiável de serviços. As variações climáticas tornam mais difícil prever padrões de consumo e de geração de energia, aumentando o risco de interrupções nos serviços. Segurança Cibernética: À medida que as redes se tornam mais digitalizadas, aumenta também o risco de ataques cibernéticos. Garantir a segurança de dados e sistemas críticos é uma preocupação crescente para as utilities e as cidades que dependem de suas operações. Custo e Implementação de Tecnologias: Embora as soluções digitais ofereçam benefícios significativos, sua implementação inicial pode ser cara. Além disso, requer uma força de trabalho capacitada e uma mudança de cultura organizacional para adotar novas formas de operar e tomar decisões. Oportunidades Geradas pela Transformação Digital Ao mesmo tempo, a transformação digital traz oportunidades promissoras para enfrentar os desafios climáticos e remodelar as cidades do futuro. Entre as principais, destacam-se: Eficiência Operacional: A digitalização permite que as utilities monitorem suas redes em tempo real, identifiquem problemas com antecedência e otimizem a distribuição de recursos. Isso resulta em menor desperdício de água e energia, além de reduzir os custos de manutenção e operação. Resiliência Climática: Redes inteligentes (smart grids) e sistemas de IA ajudam as utilities a prever e se adaptar a eventos climáticos extremos, como tempestades e secas, garantindo que os serviços continuem operando mesmo em condições adversas. Além disso, a integração de energias renováveis, como solar e eólica, nas redes urbanas permite uma maior flexibilidade e sustentabilidade. Cidades Inteligentes e Sustentáveis: A conexão entre a transformação digital das utilities e o crescimento das cidades inteligentes é evidente. As cidades que adotam tecnologias digitais conseguem gerenciar melhor o consumo de energia, otimizar o trânsito, reduzir as emissões de carbono e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Sensores IoT, por exemplo, podem monitorar o consumo de água e eletricidade, permitindo que os governos locais ajustem políticas de uso de recursos com base em dados precisos. Engajamento do Consumidor: Com o avanço das tecnologias digitais, consumidores têm mais controle e informações sobre seu consumo de energia e água. Isso incentiva comportamentos mais sustentáveis, como a redução do desperdício e o uso consciente de recursos naturais. Novos Modelos de Negócios e Inovação: As utilities podem explorar novos modelos de negócios baseados em dados, como plataformas de compartilhamento de energia ou tarifas dinâmicas que recompensam o uso eficiente de energia. Startups de tecnologia também encontram um terreno fértil para desenvolver soluções inovadoras que atendam a essa nova realidade. Conclusão A crise climática colocou em evidência a necessidade de mudanças profundas nas estruturas urbanas e nas operações das utilities. A transformação digital, catalisada pelas demandas ambientais, está desempenhando um papel central na modernização desses setores, permitindo uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos. Embora desafios, como a infraestrutura obsoleta e os custos de implementação, continuem sendo barreiras, as oportunidades de inovação, maior resiliência e crescimento das cidades inteligentes são promissoras. Durante o debate os participantes destacaram várias conclusões importantes sobre o papel central da tecnologia e a necessidade urgente de mudanças. A Transformação Digital Não É Mais Opcional . Um consenso entre os debatedores foi que a transformação digital nas utilities deixou de ser uma escolha estratégica e se tornou uma necessidade. As mudanças climáticas estão colocando uma pressão sem precedentes nos sistemas de infraestrutura existentes, exigindo uma modernização rápida. Redes antigas e modelos tradicionais de operação não são mais suficientes para lidar com a variabilidade climática e as demandas emergentes por sustentabilidade e eficiência energética. Eficiência e Sustentabilidade Andam de Mãos Dadas . Os especialistas concluíram que a digitalização não só aumenta a eficiência das operações, mas também promove a sustentabilidade. Tecnologias como medidores inteligentes, redes elétricas autônomas e sistemas de IA ajudam a reduzir o desperdício de água, a otimizar o uso de energia e a integrar fontes renováveis, como solar e eólica, de maneira mais eficaz. Esses sistemas inteligentes permitem uma resposta mais rápida às flutuações climáticas, ajudando a mitigar os impactos de eventos extremos, como tempestades e secas prolongadas. Resiliência Climática é a Nova Prioridade . Os debatedores também enfatizaram a importância de priorizar a resiliência climática nas cidades inteligentes, onde as utilities têm um papel essencial. Foi discutido que, além de reduzir emissões e promover o uso de energias renováveis, as cidades e utilities precisam estar preparadas para lidar com interrupções causadas por eventos climáticos adversos, como blecautes ou a escassez de água. A adoção de tecnologias de monitoramento em tempo real, como sensores IoT e ferramentas de análise de dados, são cruciais para identificar vulnerabilidades e garantir a continuidade dos serviços essenciais. Colaboração entre Setores é Fundamental . Outro ponto unânime entre os debatedores foi que a transformação digital e a resiliência das cidades só serão plenamente alcançadas por meio da colaboração entre o setor público, privado e a sociedade civil. Governos, utilities e empresas de tecnologia precisam trabalhar em conjunto para desenvolver soluções inovadoras e acessíveis que possam ser escaladas de forma eficiente. Além disso, foi ressaltada a importância de políticas públicas claras e de incentivos financeiros para acelerar a adoção de novas tecnologias, garantindo que a digitalização e a sustentabilidade avancem em paralelo. O Papel Ativo dos Consumidores . Por fim, foi abordado o papel crescente dos consumidores na transformação digital das utilities. Com acesso a dados em tempo real sobre o consumo de água e energia por meio de dispositivos inteligentes, os cidadãos podem adotar hábitos mais sustentáveis e participar ativamente na redução da demanda, equilibrando a utilização de recursos naturais. Os debatedores concluíram que a conscientização e a educação dos consumidores serão essenciais para que a transformação digital se traduza em benefícios concretos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. Em resumo, os debatedores concordaram que a crise climática representa um chamado urgente à ação para as utilities e para as cidades inteligentes. As soluções digitais surgem como a principal resposta, proporcionando maior eficiência, resiliência e sustentabilidade. No entanto, essas mudanças exigem uma abordagem colaborativa, com esforços coordenados entre governo, empresas e cidadãos para transformar as utilities em pilares fundamentais da resiliência climática e do crescimento sustentável das cidades. O caminho está traçado para que as cidades e seus sistemas essenciais evoluam em sintonia com os desafios e as oportunidades do século XXI. Participantes da Mesa de Debates Maria Tereza Moysés Travassos Vellano – VP de Utilities do SCBA - Coordenadora da Mesa Antonio Almeida – Diretor de Soluções Almeida Energy Solution Eduardo Arcas – Head IoT Solutin Latam – Constanta Industrial Gilson Paulillo - Senior Business Development Consultant - Venturus Lucas Molina – Gerente de Desenvolvimento – Everynet Brasil Paulo Roberto de Souza Pimentel - CEO & Founder da Pimentel Smart Grid Utilities Rivaldo de Oliveira Ferreira – Vice- Presidente de Utilities Sonda Sergio Jacobsen - CEO Micropower Energia Severiano Leão Macedo – CISCO Industrial IoT Specialist
Por Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos 5G do ISCBA 17 dez., 2023
A limpeza do espectro tem sido feita em prazos acima das expectativas e vai distanciando cada vez mais a disponibilidade de espectro e a implantação real nas cidades. Embora siga em ritmo acelerado, a implantação do 5G é desigual, principalmente pelo fator econômico. Pesam também fatores estruturais, como a aplicação da Lei das Antenas em cada cidade e a busca de novas aplicações, como a prestação de serviços em Smart Cities. Os novos entrantes começam a desenvolver seus projetos de forma acelerada e se apresenta para eles alguns desafios: projetos enxutos, arquitetura aberta (Open RAN) ou fechada, escolha de fornecedores, estratégia de implantação para além das obrigações, assimetria regulatória, prevista no novo PGMC. A recente aprovação do acordo Winity-Vivo também terá um impacto significativo, tanto na estratégia das entrantes, quanto das incumbentes. Com tantos temas, convidamos para um debate, em 22 de novembro de 2023, alguns dos maiores especialistas no assunto no Brasil, para construir um panorama sobre os reais desafios do 5G no país. Inicialmente, foi bastante elogiado o Edital 5G e seu caráter não arrecadatório, destacando-se a agilidade da implantação pelas incumbentes. Por outro lado, alguns problemas foram levantados, como a necessidade de antenas e as dificuldades das leis municipais, bem como os preços dos Celulares 5G que ainda são elevados. Questionou-se a viabilidade dos novos entrantes, contra incumbentes já estruturadas e atendendo velozmente o mercado, apontando-se, ainda, que a solução para o desenvolvimento das aplicações no 5G é a “desverticalização”. Outros dois importantes aspectos foram destacados: o papel dos novos entrantes na competição nacional e a mudança na regulamentação para a garantia de acesso ao espectro, em caráter secundário. Foi enfatizado a importância da manutenção das assimetrias também no ambiente móvel (SMP). Assimetria como um conceito a ser adequado ao 5G, por exemplo, no uso e compartilhamento de espectro, mercado secundário, de modo a conferir segurança jurídica aos entrantes e demais ISPs, assim, foi sugerida a criação de um banco de dados acessível a todos com as disponibilidades de espectro. Um dos questionamentos foi se a indústria sabe o que realmente quer com o 5G e até que ponto os integradores devem/podem ser os indutores de inovação. Porém, a escassez de mão-de-obra é um problema para o desenvolvimento da inovação. Foi apontado, ainda, que as tecnologias inovadoras são fatores de aceleração e desenvolvimento das redes 5G, tais como as redes abertas, que propiciam vantagens competitivas, sendo necessária a criação de políticas públicas que incentivem a utilização de novas tecnologias, auxiliando as forças de mercado no desenvolvimento do 5G. Um exemplo apontado foi a luminária da JUGANU (com fentom cell 5G), como uma inovação e a importância da coordenação dos atores (Indústria - ABDI) para acelerar as inovações. Outro ponto destacado é que os grandes beneficiários das redes 5G são a Indústria Nacional, o Agro e a Saúde, sobretudo em função da latência. Por isso, as empresas têm de desenvolver a capacidade de ouvir o que a Indústria precisa e desenvolver novos modelos de negócio. Como exemplo foi citado o Polo de Indústrias de Manaus, que tem capacidade média de conectividade em torno de 50Mbps, para entender que o problema não é tecnologia, mas a conectividade. Porém, o Edital 5G não requereu performance, e sim, cobertura. Foi destacado o resultado de uma pesquisa que mostra que 60% das empresas entendem a importância do 5G, mas somente 2% estão analisando a possibilidade de utilização/implantação de soluções em 5G e 30% aguardam por modelos de negócio que possam se adequar às suas necessidades. O Presidente da Brisanet, Roberto Nogueira, deu um importante depoimento sobre o dia seguinte ao Edital do 5G e as dificuldades inerentes à escolha do fabricante, da tecnologia do core de rede e os terminais. Ele informou ter optado por uma tecnologia vertical, por segurança e por lançar o 4G e 5G ao mesmo tempo, na mesma ERB. Em sua análise, o 700 MHz não é essencial pelo adensamento da rede e por ter o 2,3 GHz. Para ele, o grande problema são os compromissos de cobertura em cidades com menos de 30 mil habitantes onde os prefeitos não têm consciência da importância das infraestruturas. Disse, ainda, que a Brisanet já tem cobertura para 4 milhões de acessos potenciais e vai acabar 2023 com torres em 30 cidades, mas seu objetivo é monetizar com o SMP, num primeiro momento, para somente depois pensar em novos modelos de negócio. As empresas têm de estimular/contratar/fazer parcerias com “Desenvolvedores de Aplicações”, a fim de encontrarem soluções disruptivas para agregar valor aos seus negócios. Apps, como Uber, iFood, entre outras, foram criadas por startups, algo difícil de acontecer em uma empresa de telecom, embora elas tenham demonstrado esforços para mudar a situação. Poucos municípios têm boa gestão e por isso a maioria não consegue compreender os benefícios da conectividade. É necessário um veículo para educar os prefeitos sobre a importância deles facilitarem a conectividade com o 5G, já que ela pode trazer grandes benefícios à população, ampliando o acesso a vários serviços. Foi destacado o papel do FUST, que está finalmente oferecendo financiamento aos ISPs, via BNDES e que podem, ainda, ser utilizado para expansão do 5G, desde que não seja para financiar as obrigações contratuais. Acredita que os remédios VIVO e Oi sejam suficientes para incentivar a competição, lembrando que as decisões têm um gatilho de eventuais novas medidas em 60 dias, caso as estabelecidas não surtam os efeitos esperados. Os três grandes eixos do 5G (velocidade, baixa latência e aplicação massiva), mais cedo ou mais tarde, terão grande relevância e aplicação nas indústrias, com aplicações de automação industrial, redes privativas, etc. O sucesso do Edital e da implantação parcial é uma realidade, mas é preciso garantir o sucesso nos resultados, quando da implementação em todo o país. O Edital 5G não tem similaridade no mundo pela quantidade de espectro e o sucesso dos novos entrantes depende da eficácia dos remédios VIVO e Oi, implementados pela Anatel e que eles são importantes para o equilíbrio na competição entre incumbentes e entrantes. O novo PGMC deve também trazer assimetrias semelhantes às implementadas na banda larga fixa que fez com que o mercado de ISPs crescesse exponencialmente, sendo o Brasil um caso único no mundo. Como conclusão, as intervenções dos debatedores mostraram que é necessário: (i) incentivos aos entrantes, sob forma de assimetria regulatória, remédios e financiamento; (ii) incentivos ao desenvolvimento de tecnologias e integradores; (iii) mudança de postura dos administradores municipais para facilitar a implantação de infraestrutura e (iv) entendimento pela indústria, agro, cidades, entre outros segmentos, do potencial do 5G para incrementar seus negócios. Artigo escrito por: • Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos para 5G do ISCBA Participantes da Mesa de Debates: • Anibal Diniz - Consultor da NEO • Arthur Coimbra - Conselheiro da Anatel • Cristiane Sanches - Conselheira da Abrint • Juarêz Quadros - Head do JMQN Advisors • Daniel Brandão - Coord. Ger. Pol. Serv. Telec. do Ministério das Comunicações • Milene Pereira - Gerente Sênior de Governo da Qualcomm Brasil • Roberto Nogueira - Presidente da Brisanet • Tiago Fairstein - Gerente de Novos Negócios da ABDI
Por Maria Tereza Moysés Travassos Vellano - CEO da Vellano Smart Energy Consultoria 16 ago., 2023
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