Este artigo pretende constituir-se num instrumento útil de referência e consulta mercadológica, sendo a sinopse das pesquisas, debates, análises e contribuições havidas no âmbito da Reunião Estratégica nº 16do Smart City Business Brazil Congress 2022, ocorrido na cidade de São Paulo no dia 26 de maio de 2022.
Nosso objetivo é compartilhar com a sociedade brasileira as experiências e os conhecimentos que adquirimos, de forma que o mercado tenha maior impulso de crescimento em suas várias frentes de soluções inteligentes para as cidades através de ideias inovadoras. Ao produzirmos um conjunto de análises e reflexões que configurem propostas para solucionar os desafios e barreiras ao enunciado em epígrafe, intencionamos, por meio da publicação nos diversos canais de mídia e dos expedientes institucionais de formulação de políticas públicas, podermos oportunamente apresentar essas sugestões junto às instâncias governamentais competentes.
Sim, tecnologias digitais dominam a maioria das discussões sobre cidades inteligentes. Como ferramentas para a transformação qualitativa dos serviços prestados ao cidadão, essas tecnologias têm se mostrado de grande valia e eficácia, além de terem seus custos “capex” e “opex” comprovadamente reduzidos ao longo do tempo, dentro do princípio de economia de escala. Não restam dúvidas que dispositivos e sistemas digitais que coletam, analisam e gerenciam dados, são fundamentais para garantir benefícios sociais, econômicos e ambientais às cidades.
Entretanto, muitas vezes percebemos que dentro do processo de transformação das cidades inteligentes, isoladamente a tecnologia parece não ser o principal fator-chave para alcançarmos a visão plena dessa transformação e trazer os resultados esperados por quem elabora e planeja essas políticas. De fato, alguns outros fatores de natureza não-técnica, tais como visão de futuro, questões políticas, planejamento participativo, espírito colaborativo, aspectos culturais da região, capacitação e motivação das pessoas, com frequência impõem-se como barreiras e assumem-se como condicionantes do sucesso de um projeto, exigindo dos gestores responsáveis uma abordagem menos cartesiana e mais comportamental.
Diante do empirismo que vem nos ensinando e moldando a realidade da execução dos projetos estruturantes para cidades inteligentes, perguntamo-nos como podemos repensar o planejamento desses projetos no futuro e considerar esses fatores axiomáticos na pauta dos gestores municipais.
O grande pensador Peter Drucker, considerado o pai da administração moderna, cunhou uma frase que diz que “A cultura organizacional devora a estratégia no café-da-manhã”, destacando a importância de considerarmos o fator humano como precondicionante ao sucesso de qualquer iniciativa. E tanto faz que a estratégia, a proposta ou a expectativa de bons ganhos derivados do programa de cidades inteligentes sejam elevadas; se as pessoas que fazem parte do processo de execução não estiverem devidamente capacitadas e motivadas, as chances de sucesso serão bastante reduzidas.
Os servidores de um órgão público, graduados ou não, precisam estar dispostos a saber agir em situações de criticidade, lidando com a ansiedade da comunidade que os cobra diariamente por soluções urgentes, gerenciando as frustrações inerentes, suportando as pressões e as demais cobranças dos munícipes. Enquanto a estratégia define a direção e o foco, a cultura é o ambiente onde a estratégia vive ou morre. A estratégia se concentra na desenvoltura e na habilidade, enquanto a cultura define o engajamento, a dedicação e o desempenho na execução.
Isso significa que ao concebermos um plano de implementação com uma visão arrojada, com objetivos bem definidos e com demonstrativos financeiros consistentemente embasados para impulsionar o processo de transformação das cidades inteligentes, tendo as ações em choque com a cultura vigente da organização pública, é alta a probabilidade de não lograrmos bom êxito, é grande a chance de colhermos resultados pífios, se o ambiente organizacional da entidade não estiver devidamente receptivo à execução do que está sendo concebido.
Um segundo fator subjacente do sucesso das ações empreendidas no processo de impulsionamento das soluções inteligentes nas cidades é o acesso à informação assertiva. A realidade da gestão das cidades brasileiras mostra que não é desprezível a dificuldade operativa do prefeito eleito, dos secretários e dos demais gestores de um município, assim como é grande o desafio de conhecer as origens, as premissas de liberação e as condicionantes de elegibilidade a todos os recursos passíveis de captação que uma prefeitura precisa, para fazer frente às diversas necessidades de investimento que a comunidade espera.
Não raro, esses gestores caem no imobilismo administrativo, apenas por desconhecerem o arcabouço de viabilidades financeiras a que podem dispor. Não percebemos ações de proatividade dos órgãos financiadores sendo capilarizadas nos municípios, entendendo que esse encontro entre demandantes e ofertantes de recursos financeiros ocorre de forma quase exclusivamente passiva do lado dos ofertantes, naturalmente ponderada a dificuldade de se fazerem conhecer no imenso conjunto dos 5.570 municípios brasileiros.
A título de recomendação contributiva, após pontuarmos criteriosamente algumas dificuldades e soluções para o desafio do tema em epígrafe, recomendamos o fortalecimento e a criação de novas associações e consórcios intermunicipais, entidades que consistem em estruturas formais de articulação federativa, possibilitando ações de cooperação intergovernamental e gestão compartilhada de responsabilidades públicas, fortalecendo a administração dos governos locais.
A importância do fortalecimento do municipalismo consorciado no processo da adoção de soluções inteligentes é considerado fundamental, porque embora as cidades interioranas sempre tenham historicamente servido como entrepostos para coletividades maiores, a drástica urbanização ocorrida no século XX trouxe um novo tipo de configuração social para as cidades que se expandiam, em uma escala nunca antes vista. A migração em massa e o crescimento explosivo tanto da população urbana, quanto do número de cidades interioranas, significa que agora as preocupações fervilham no campo das políticas municipais compartilhadas, e não necessariamente incluindo os grandes centros urbanos; as áreas de interesse econômico comuns a um grupo de municípios, estão cada vez mais sujeitas a um tratamento abrangente, significando também que ações numa única cidade podem contradizer ou colaborar diretamente para a consecução de políticas regionais comuns.
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