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Como os dispositivos de IoT e a IA podem reduzir as perdas nos sistemas de distribuição de água para as Cidades?

Hélio Samora - CEO da Smartacqua
Jun 24, 2022

Como os dispositivos de IoT e a IA podem reduzir as perdas nos sistemas de distribuição de água para as Cidades?

Este artigo é uma síntese das análises e contribuições debatidas durante a Reunião Estratégica nº 09, do Smart City Business Brazil Congress 2022, realizada na cidade de São Paulo no dia 25 de maio deste ano.

 

O objetivo desse encontro, que contou com a presença de representantes de agências reguladoras, prestadores de serviços privados, consultores e fornecedores de soluções tecnológicas, foi o de analisar o status quo do emprego da Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial e de outras tecnologias pelo setor de saneamento para reduzir as perdas de água e debater sobre o que poderia ser feito para evoluir nesse sentido. 

 

Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) alertam que mais de 70% das populações das grandes cidades viverão em áreas de escassez hídrica nos próximos anos. No Chile, a estimativa é que serão 12 anos de escassez, e no caso do Brasil, serão dez anos. Outros estudos feitos pelo Banco Mundial e pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) mostram ainda que as perdas de água chegam a 50% em média no mundo todo e que acontecem por diversas razões como vazamentos, erros de leitura, hidrômetros obsoletos, ligações clandestinas, entre outros. É um problema que pode ser minimizado nas cidades com o uso da Inteligência Artificial (IA) e dos dispositivos de IoT que contribuem para reduzir estratégica e significativamente o volume das perdas de água, gerando ao mesmo tempo uma redução de custos para as companhias de saneamento e aumento da receita, entre outros benefícios. 

 

Enquanto nos Estados Unidos 65% das micromedições são feitas com emprego da IoT e da telemetria, no Brasil menos de 5% utilizam essas tecnologias. Ainda há muito a avançar nesse sentido e na macromedição. Muitas empresas de saneamento, principalmente as públicas, alegam não contar com recursos financeiros suficientes para investir em novas tecnologias. Mas, nesse sentido, uma opção viável são os contratos de performance, pois a empresa apenas usa a tecnologia após ser implementada pelo parceiro privado e os resultados e benefícios confirmados na prática remuneram os contratos. Outra questão, além da falta de recursos financeiros, são as barreiras jurídicas, que brecam projetos de inovação e fazem as empresas, especialmente as do setor público, perderem tempo e água. 

 

Uma dificuldade adicional é que muitos profissionais das empresas de saneamento ainda não estão prontos para trabalhar com tecnologias e para lidar e analisar a grande quantidade de informações geradas por elas. Vale destacar que atualmente é feita uma leitura por mês, enquanto com o uso de sensores e outros equipamentos de IoT poderiam ser feitas várias leituras diárias, o que ampliaria substancialmente a quantidade de informações, requerendo a capacitação das pessoas para analisar esses dados com emprego de tecnologias, como as de Inteligência Artificial. 

 

Como bem disse Murilo Borges, da Iguá, “dados são como água: só servem se forem tratados”. Enquanto a IoT agiliza a captura diária dos dados, a IA permite analisar essas informações para auxiliar na tomada de decisão. Com isso, é possível verificar as anomalias no sistema de forma imediata e precisa, permitindo que se criem metodologias específicas para cada cliente. Isso facilita o trabalho e gera maior nível operacional. Tecnologia, gestão da informação, tomada de decisão e ações efetivas, tudo isso tem que caminhar juntas.

 

O grande problema é que há muito atraso na preparação das pessoas do setor para a universalização do saneamento. As inúmeras tentativas de novos projetos não são fáceis, mas são válidas porque há mais de 40 milhões de brasileiros sem água, e as empresas do setor estão sofrendo com a elevação dos custos, especialmente os referentes à energia elétrica. A maior dificuldade dessas companhias, principalmente das públicas, é a falta de decisão política para resolver os problemas, e não levam em consideração que existem várias possibilidades além das licitações.

 

Há falta ainda de maior diálogo entre as empresas prestadoras de serviços e as agências reguladoras, sendo que a missão dessas últimas é trabalhar com maior transparência, orientar e viabilizar os acordos entre as partes. É preciso estimular o diálogo entre todos os elos da cadeia e achar o caminho jurídico para viabilizar o maior emprego das tecnologias que vão auxiliar, não apenas a reduzir a escassez hídrica, como também a gerar caixa, considerando que, na verdade, o dinheiro já está nas companhias, mas está sendo desperdiçado na perda da água que já foi tratada, devido a vazamentos, fraudes, erros de leitura e hidrômetros ultrapassados, além da dificuldade de mensurar os custos.

 

Cabe às agências reguladoras orientar as prestadoras de serviços quanto ao emprego de tecnologias que permitam apontar e verificar as irregularidades no sistema para que estas, então, determinem as ações cabíveis. Os prefeitos não conseguem resolver os problemas junto aos prestadores de serviços. Cabe ao regulador sugerir alternativas no sentido de otimizar as operações. Primeiro é preciso criar um sistema de informações para, depois, partir para a elaboração de programas que visam à redução de perdas de água.

 

A SAAE Sorocaba, por exemplo, que em janeiro deste ano contratou um profissional vindo do setor privado para assumir a área responsável por inovação, enfrentou dificuldades para aquisição e importação de novas tecnologias, impostas pelo setor jurídico, e ainda teve que lidar com a deficiência e desorganização para a obtenção de informações que são coletadas de forma manual. Assim como em outras companhias, ainda falta muito para informatizar a empresa e obter os dados em tempo real, o que requer também altos investimentos. Mesmo aquelas que contam com programas de redução de perdas e sistemas de monitoramento em tempo real, têm dificuldades para analisar e saber o que fazer com os dados obtidos.

 

Algumas prestadoras privadas de serviços que estão entrando no setor de saneamento estimuladas pelo novo marco regulatório, mostram-se abertas à experimentar e testar novos equipamentos e tecnologias, tendo consciência da necessidade de capacitar pessoas para instalar e lidar com sensores IoT e soluções inovadoras. Falta às agências reguladoras dar suporte a essas iniciativas, e às prestadoras de serviços públicas e privadas arrumarem a casa primeiro para depois verificar, inclusive do ponto de vista financeiro, onde vale a pena implementar as novas tecnologias. O consenso é de que ninguém faz nada sozinho. É preciso que as prestadoras de serviços se unam às agências reguladoras e às fornecedoras de soluções para que, juntas, encontrem o caminho viável para melhorar o saneamento. O importante é começar a fazer a mudança de paradigma, sem querer fazer tudo de uma vez. É possível dividir os problemas em blocos e trabalhar um por vez, o que já servirá de exemplo para outras cidades do país.

 

A regra é que a regulação sempre chega depois do fato, o que não é uma novidade, e isso acontece porque muitas agências reguladoras são antigas e possuem uma estrutura engessada que dificulta a inovação. Uma das exceções é a AGESAN-RS, que por ser uma autarquia mais nova, criada em 2019 e composta por profissionais que vieram do mercado, tem uma postura mais aberta a esse processo de modernização e de maior cooperação com os demais atores do setor. E cabe ao prestador de serviço otimizar a sua gestão, pois, em muitos casos, há recursos financeiros para colocar em marcha vários projetos, mas que acabam sendo desperdiçados justamente devido a uma gestão equivocada.

 

Há grande esperança de que o novo marco regulatório impulsione o setor, na medida em que permite aos prestadores de serviços firmar contratos de 10, 15 e até 35 anos e, com essa perenidade, terão mais tempo para investir em tecnologias e na implementação de projetos de eficiência. Não há dúvida de que a tecnologia permite ganhar 25 anos em um, e a expectativa é que haja condições para seu maior emprego no saneamento.

 

É preciso parar de apenas discutir a questão das perdas em congressos e partir para a ação. Está na hora de todos os elos da cadeia se unirem para que se comece de fato a trabalhar para modernizar o setor e prestar melhor atendimento à população, reduzindo as perdas para que a água chegue aqueles que ainda sofrem com a sua falta. Investir em perdas dá retorno imediato porque, de fato, o dinheiro já está nas companhias, mas é invisível e desperdiçado nas sub-medições, fraudes, vazamentos e demais irregularidades. Não existe vida sem água e é preciso tratar melhor esse recurso. Como bem disse o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, “somos a primeira geração que sente as consequências das mudanças climáticas e a última que tem a oportunidade de fazer algo para detê-las”.

 

Elaborado por:

  • Hélio Samora - CEO da SmartAcqua Solutions

 

Participaram da Reunião Estratégica e colaboraram para esse artigo:

  • Enéas Ripoli - CTO da SmartAcqua Solutions 
  • Rodolfo Barboza - Engenheiro do Núcleo Técnico da SAAE Sorocaba 
  • Tiago Suckow - Superintendente da SAAE Sorocaba 
  • Michel Mathez - Engenheiro Especialista em Saneamento da Miya Water
  • Flávio Lemos - CEO da Zavarise Engenharia e Consultoria 
  • Murilo Borges - Diretor de Operações da Iguá Saneamento 
  • Demétrius Jung Gonzalez - Diretor Geral da AGESAN-RS
  • Vagner Gerhardt Mâncio - Coordenador de Normatização e Fiscalização da AGESAN-RS.

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Por Maria Tereza Vellano - Vice-Presidente de Utilities do SCBA 13 out., 2024
Neste artigo, exploramos as principais conclusões do debate que discutiu como a digitalização das utilities, impulsionada pelas mudanças climáticas, está moldando o futuro das cidades e promovendo maior resiliência urbana. A crise climática está transformando a forma como as cidades e empresas lidam com os recursos naturais e a infraestrutura urbana. Em um cenário onde o aumento da temperatura global, eventos climáticos extremos e a escassez de recursos são cada vez mais frequentes, setores essenciais como água, gás e energia elétrica (as chamadas utilities) estão sob pressão para adotar modelos mais sustentáveis e eficientes. Para lidar com esses desafios, as tecnologias digitais emergiram como soluções poderosas, permitindo a otimização de recursos e facilitando o crescimento de cidades inteligentes. A transformação digital, impulsionada pela crise climática, tem se mostrado não apenas uma ferramenta para mitigar impactos ambientais, mas também um motor de inovação. Ao integrar tecnologias como Internet das Coisas (IoT), big data, inteligência artificial (IA) e redes elétricas inteligentes (smart grids), as utilities estão redesenhando a forma como gerenciam e distribuem recursos, enquanto as cidades inteligentes utilizam essas inovações para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Principais Desafios Apesar dos avanços, a transformação digital nas utilities enfrenta uma série de desafios complexos, tanto tecnológicos quanto estruturais. Entre os mais significativos, estão: Infraestrutura Obsoleta: Muitas redes de energia, água e gás em todo o mundo foram construídas décadas atrás e estão mal preparadas para lidar com as exigências atuais de eficiência e sustentabilidade. Atualizar essas infraestruturas envolve investimentos elevados e planejamentos cuidadosos. Gestão de Recursos Naturais: A escassez de água e as mudanças na distribuição de fontes de energia renováveis criam desafios para o fornecimento estável e confiável de serviços. As variações climáticas tornam mais difícil prever padrões de consumo e de geração de energia, aumentando o risco de interrupções nos serviços. Segurança Cibernética: À medida que as redes se tornam mais digitalizadas, aumenta também o risco de ataques cibernéticos. Garantir a segurança de dados e sistemas críticos é uma preocupação crescente para as utilities e as cidades que dependem de suas operações. Custo e Implementação de Tecnologias: Embora as soluções digitais ofereçam benefícios significativos, sua implementação inicial pode ser cara. Além disso, requer uma força de trabalho capacitada e uma mudança de cultura organizacional para adotar novas formas de operar e tomar decisões. Oportunidades Geradas pela Transformação Digital Ao mesmo tempo, a transformação digital traz oportunidades promissoras para enfrentar os desafios climáticos e remodelar as cidades do futuro. Entre as principais, destacam-se: Eficiência Operacional: A digitalização permite que as utilities monitorem suas redes em tempo real, identifiquem problemas com antecedência e otimizem a distribuição de recursos. Isso resulta em menor desperdício de água e energia, além de reduzir os custos de manutenção e operação. Resiliência Climática: Redes inteligentes (smart grids) e sistemas de IA ajudam as utilities a prever e se adaptar a eventos climáticos extremos, como tempestades e secas, garantindo que os serviços continuem operando mesmo em condições adversas. Além disso, a integração de energias renováveis, como solar e eólica, nas redes urbanas permite uma maior flexibilidade e sustentabilidade. Cidades Inteligentes e Sustentáveis: A conexão entre a transformação digital das utilities e o crescimento das cidades inteligentes é evidente. As cidades que adotam tecnologias digitais conseguem gerenciar melhor o consumo de energia, otimizar o trânsito, reduzir as emissões de carbono e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Sensores IoT, por exemplo, podem monitorar o consumo de água e eletricidade, permitindo que os governos locais ajustem políticas de uso de recursos com base em dados precisos. Engajamento do Consumidor: Com o avanço das tecnologias digitais, consumidores têm mais controle e informações sobre seu consumo de energia e água. Isso incentiva comportamentos mais sustentáveis, como a redução do desperdício e o uso consciente de recursos naturais. Novos Modelos de Negócios e Inovação: As utilities podem explorar novos modelos de negócios baseados em dados, como plataformas de compartilhamento de energia ou tarifas dinâmicas que recompensam o uso eficiente de energia. Startups de tecnologia também encontram um terreno fértil para desenvolver soluções inovadoras que atendam a essa nova realidade. Conclusão A crise climática colocou em evidência a necessidade de mudanças profundas nas estruturas urbanas e nas operações das utilities. A transformação digital, catalisada pelas demandas ambientais, está desempenhando um papel central na modernização desses setores, permitindo uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos. Embora desafios, como a infraestrutura obsoleta e os custos de implementação, continuem sendo barreiras, as oportunidades de inovação, maior resiliência e crescimento das cidades inteligentes são promissoras. Durante o debate os participantes destacaram várias conclusões importantes sobre o papel central da tecnologia e a necessidade urgente de mudanças. A Transformação Digital Não É Mais Opcional . Um consenso entre os debatedores foi que a transformação digital nas utilities deixou de ser uma escolha estratégica e se tornou uma necessidade. As mudanças climáticas estão colocando uma pressão sem precedentes nos sistemas de infraestrutura existentes, exigindo uma modernização rápida. Redes antigas e modelos tradicionais de operação não são mais suficientes para lidar com a variabilidade climática e as demandas emergentes por sustentabilidade e eficiência energética. Eficiência e Sustentabilidade Andam de Mãos Dadas . Os especialistas concluíram que a digitalização não só aumenta a eficiência das operações, mas também promove a sustentabilidade. Tecnologias como medidores inteligentes, redes elétricas autônomas e sistemas de IA ajudam a reduzir o desperdício de água, a otimizar o uso de energia e a integrar fontes renováveis, como solar e eólica, de maneira mais eficaz. Esses sistemas inteligentes permitem uma resposta mais rápida às flutuações climáticas, ajudando a mitigar os impactos de eventos extremos, como tempestades e secas prolongadas. Resiliência Climática é a Nova Prioridade . Os debatedores também enfatizaram a importância de priorizar a resiliência climática nas cidades inteligentes, onde as utilities têm um papel essencial. Foi discutido que, além de reduzir emissões e promover o uso de energias renováveis, as cidades e utilities precisam estar preparadas para lidar com interrupções causadas por eventos climáticos adversos, como blecautes ou a escassez de água. A adoção de tecnologias de monitoramento em tempo real, como sensores IoT e ferramentas de análise de dados, são cruciais para identificar vulnerabilidades e garantir a continuidade dos serviços essenciais. Colaboração entre Setores é Fundamental . Outro ponto unânime entre os debatedores foi que a transformação digital e a resiliência das cidades só serão plenamente alcançadas por meio da colaboração entre o setor público, privado e a sociedade civil. Governos, utilities e empresas de tecnologia precisam trabalhar em conjunto para desenvolver soluções inovadoras e acessíveis que possam ser escaladas de forma eficiente. Além disso, foi ressaltada a importância de políticas públicas claras e de incentivos financeiros para acelerar a adoção de novas tecnologias, garantindo que a digitalização e a sustentabilidade avancem em paralelo. O Papel Ativo dos Consumidores . Por fim, foi abordado o papel crescente dos consumidores na transformação digital das utilities. Com acesso a dados em tempo real sobre o consumo de água e energia por meio de dispositivos inteligentes, os cidadãos podem adotar hábitos mais sustentáveis e participar ativamente na redução da demanda, equilibrando a utilização de recursos naturais. Os debatedores concluíram que a conscientização e a educação dos consumidores serão essenciais para que a transformação digital se traduza em benefícios concretos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. Em resumo, os debatedores concordaram que a crise climática representa um chamado urgente à ação para as utilities e para as cidades inteligentes. As soluções digitais surgem como a principal resposta, proporcionando maior eficiência, resiliência e sustentabilidade. No entanto, essas mudanças exigem uma abordagem colaborativa, com esforços coordenados entre governo, empresas e cidadãos para transformar as utilities em pilares fundamentais da resiliência climática e do crescimento sustentável das cidades. O caminho está traçado para que as cidades e seus sistemas essenciais evoluam em sintonia com os desafios e as oportunidades do século XXI. Participantes da Mesa de Debates Maria Tereza Moysés Travassos Vellano – VP de Utilities do SCBA - Coordenadora da Mesa Antonio Almeida – Diretor de Soluções Almeida Energy Solution Eduardo Arcas – Head IoT Solutin Latam – Constanta Industrial Gilson Paulillo - Senior Business Development Consultant - Venturus Lucas Molina – Gerente de Desenvolvimento – Everynet Brasil Paulo Roberto de Souza Pimentel - CEO & Founder da Pimentel Smart Grid Utilities Rivaldo de Oliveira Ferreira – Vice- Presidente de Utilities Sonda Sergio Jacobsen - CEO Micropower Energia Severiano Leão Macedo – CISCO Industrial IoT Specialist
Por Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos 5G do ISCBA 17 dez., 2023
A limpeza do espectro tem sido feita em prazos acima das expectativas e vai distanciando cada vez mais a disponibilidade de espectro e a implantação real nas cidades. Embora siga em ritmo acelerado, a implantação do 5G é desigual, principalmente pelo fator econômico. Pesam também fatores estruturais, como a aplicação da Lei das Antenas em cada cidade e a busca de novas aplicações, como a prestação de serviços em Smart Cities. Os novos entrantes começam a desenvolver seus projetos de forma acelerada e se apresenta para eles alguns desafios: projetos enxutos, arquitetura aberta (Open RAN) ou fechada, escolha de fornecedores, estratégia de implantação para além das obrigações, assimetria regulatória, prevista no novo PGMC. A recente aprovação do acordo Winity-Vivo também terá um impacto significativo, tanto na estratégia das entrantes, quanto das incumbentes. Com tantos temas, convidamos para um debate, em 22 de novembro de 2023, alguns dos maiores especialistas no assunto no Brasil, para construir um panorama sobre os reais desafios do 5G no país. Inicialmente, foi bastante elogiado o Edital 5G e seu caráter não arrecadatório, destacando-se a agilidade da implantação pelas incumbentes. Por outro lado, alguns problemas foram levantados, como a necessidade de antenas e as dificuldades das leis municipais, bem como os preços dos Celulares 5G que ainda são elevados. Questionou-se a viabilidade dos novos entrantes, contra incumbentes já estruturadas e atendendo velozmente o mercado, apontando-se, ainda, que a solução para o desenvolvimento das aplicações no 5G é a “desverticalização”. Outros dois importantes aspectos foram destacados: o papel dos novos entrantes na competição nacional e a mudança na regulamentação para a garantia de acesso ao espectro, em caráter secundário. Foi enfatizado a importância da manutenção das assimetrias também no ambiente móvel (SMP). Assimetria como um conceito a ser adequado ao 5G, por exemplo, no uso e compartilhamento de espectro, mercado secundário, de modo a conferir segurança jurídica aos entrantes e demais ISPs, assim, foi sugerida a criação de um banco de dados acessível a todos com as disponibilidades de espectro. Um dos questionamentos foi se a indústria sabe o que realmente quer com o 5G e até que ponto os integradores devem/podem ser os indutores de inovação. Porém, a escassez de mão-de-obra é um problema para o desenvolvimento da inovação. Foi apontado, ainda, que as tecnologias inovadoras são fatores de aceleração e desenvolvimento das redes 5G, tais como as redes abertas, que propiciam vantagens competitivas, sendo necessária a criação de políticas públicas que incentivem a utilização de novas tecnologias, auxiliando as forças de mercado no desenvolvimento do 5G. Um exemplo apontado foi a luminária da JUGANU (com fentom cell 5G), como uma inovação e a importância da coordenação dos atores (Indústria - ABDI) para acelerar as inovações. Outro ponto destacado é que os grandes beneficiários das redes 5G são a Indústria Nacional, o Agro e a Saúde, sobretudo em função da latência. Por isso, as empresas têm de desenvolver a capacidade de ouvir o que a Indústria precisa e desenvolver novos modelos de negócio. Como exemplo foi citado o Polo de Indústrias de Manaus, que tem capacidade média de conectividade em torno de 50Mbps, para entender que o problema não é tecnologia, mas a conectividade. Porém, o Edital 5G não requereu performance, e sim, cobertura. Foi destacado o resultado de uma pesquisa que mostra que 60% das empresas entendem a importância do 5G, mas somente 2% estão analisando a possibilidade de utilização/implantação de soluções em 5G e 30% aguardam por modelos de negócio que possam se adequar às suas necessidades. O Presidente da Brisanet, Roberto Nogueira, deu um importante depoimento sobre o dia seguinte ao Edital do 5G e as dificuldades inerentes à escolha do fabricante, da tecnologia do core de rede e os terminais. Ele informou ter optado por uma tecnologia vertical, por segurança e por lançar o 4G e 5G ao mesmo tempo, na mesma ERB. Em sua análise, o 700 MHz não é essencial pelo adensamento da rede e por ter o 2,3 GHz. Para ele, o grande problema são os compromissos de cobertura em cidades com menos de 30 mil habitantes onde os prefeitos não têm consciência da importância das infraestruturas. Disse, ainda, que a Brisanet já tem cobertura para 4 milhões de acessos potenciais e vai acabar 2023 com torres em 30 cidades, mas seu objetivo é monetizar com o SMP, num primeiro momento, para somente depois pensar em novos modelos de negócio. As empresas têm de estimular/contratar/fazer parcerias com “Desenvolvedores de Aplicações”, a fim de encontrarem soluções disruptivas para agregar valor aos seus negócios. Apps, como Uber, iFood, entre outras, foram criadas por startups, algo difícil de acontecer em uma empresa de telecom, embora elas tenham demonstrado esforços para mudar a situação. Poucos municípios têm boa gestão e por isso a maioria não consegue compreender os benefícios da conectividade. É necessário um veículo para educar os prefeitos sobre a importância deles facilitarem a conectividade com o 5G, já que ela pode trazer grandes benefícios à população, ampliando o acesso a vários serviços. Foi destacado o papel do FUST, que está finalmente oferecendo financiamento aos ISPs, via BNDES e que podem, ainda, ser utilizado para expansão do 5G, desde que não seja para financiar as obrigações contratuais. Acredita que os remédios VIVO e Oi sejam suficientes para incentivar a competição, lembrando que as decisões têm um gatilho de eventuais novas medidas em 60 dias, caso as estabelecidas não surtam os efeitos esperados. Os três grandes eixos do 5G (velocidade, baixa latência e aplicação massiva), mais cedo ou mais tarde, terão grande relevância e aplicação nas indústrias, com aplicações de automação industrial, redes privativas, etc. O sucesso do Edital e da implantação parcial é uma realidade, mas é preciso garantir o sucesso nos resultados, quando da implementação em todo o país. O Edital 5G não tem similaridade no mundo pela quantidade de espectro e o sucesso dos novos entrantes depende da eficácia dos remédios VIVO e Oi, implementados pela Anatel e que eles são importantes para o equilíbrio na competição entre incumbentes e entrantes. O novo PGMC deve também trazer assimetrias semelhantes às implementadas na banda larga fixa que fez com que o mercado de ISPs crescesse exponencialmente, sendo o Brasil um caso único no mundo. Como conclusão, as intervenções dos debatedores mostraram que é necessário: (i) incentivos aos entrantes, sob forma de assimetria regulatória, remédios e financiamento; (ii) incentivos ao desenvolvimento de tecnologias e integradores; (iii) mudança de postura dos administradores municipais para facilitar a implantação de infraestrutura e (iv) entendimento pela indústria, agro, cidades, entre outros segmentos, do potencial do 5G para incrementar seus negócios. Artigo escrito por: • Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos para 5G do ISCBA Participantes da Mesa de Debates: • Anibal Diniz - Consultor da NEO • Arthur Coimbra - Conselheiro da Anatel • Cristiane Sanches - Conselheira da Abrint • Juarêz Quadros - Head do JMQN Advisors • Daniel Brandão - Coord. Ger. Pol. Serv. Telec. do Ministério das Comunicações • Milene Pereira - Gerente Sênior de Governo da Qualcomm Brasil • Roberto Nogueira - Presidente da Brisanet • Tiago Fairstein - Gerente de Novos Negócios da ABDI
Por Maria Tereza Moysés Travassos Vellano - CEO da Vellano Smart Energy Consultoria 16 ago., 2023
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