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A Cidade Inteligente

Jorge Barros, Ph.D - Diretor-Exceutivo da Fiducia Domum
Sep 12, 2020

O Desafio da Definição e a Mais-Valia da Interoperabilidade

Falar de tecnologia digital é fascinante para muitos, enquanto para outros é assustador. Escrevo esse artigo para ambos, fascinados e assustados. Estamos em meio a mais uma grande transformação tecnológica e precisamos estar preparados, para não ficarmos para trás.  

Em quase todos os artigos não-acadêmicos que escrevo, costumo começar pedindo um Disclaim, que é um termo em inglês que significa que eu aqui não terei aquela preocupação do rigor acadêmico ou da tecnicidade dos experts nesse assunto. Ao contrário, quando falamos de tecnologia de Cidades Inteligentes para um público não-especializado, um dos objetivos é justamente procurar traduzir da forma mais simples possível boa parte desse linguajar técnico que muitas vezes dificulta o entendimento para a maioria das pessoas sobre o que se passa no mundo atual. E quanto mais pessoas, especialistas e não-especialistas, entenderem como a tecnologia afeta seus cotidianos, maior será a participação efetiva desses cidadãos nas decisões sobre políticas públicas e consequentemente melhores serão os serviços prestados pela gestão municipal da cidade onde vivem.

Nesse sentido de compartilhar conhecimento, ajudando a compreender essa transformação e a evolução das tecnologias, inicialmente é importante desfazer uma pequena confusão que foi provocada pelas definições que alguns estudiosos deram ao termo Cidade Inteligente. Numa rápida busca na rede, dificilmente vamos encontrar dois autores que concordem com uma mesma definição sobre o que é uma Cidade Inteligente. E não é para menos, já que no passado houve dois momentos, um de tradução e outro de interpretação, que contribuíram para divergir opiniões e confundir esse conceito. 

Em primeiro lugar, a palavra “Inteligente” foi, naquela época, no final dos anos 80, equivocadamente traduzida para Smart no idioma inglês. Smart significa algo próximo de “Inteligente” nas línguas latinas, mas esse “Inteligente” é mais no sentido de “astuto, esperto, moderno, elegante”. Foi essa tradução que formou a expressão Smart City, hoje usualmente encontrada como significado de Cidade Inteligente no mundo todo. Melhor seria se “Inteligente” tivesse sido traduzida para Intelligent mesmo, pois o sentido de “Inteligente” no campo tecnológico é etimologicamente menos ligado ao sentido latino (cognitivamente apto a fazer escolhas) e mais ligado ao sentido anglo-saxão (interligar, conectar dados para produzir informação ou unir informações para tomar decisões). Essa tradução próxima, porém equivocada, deu margem a uma interpretação também equivocada do que seria uma cidade “Inteligente”. Por incrível que possa parecer, guerras no mundo foram deflagradas por falhas de tradução, enormes conflitos e crises entre países também. E eis aqui mais um exemplo de equívoco que poderia ter sido evitado, caso tivessem atentado para a falha de tradução naquela época.

Indo ao ponto, o primeiro registro do termo Cidade Inteligente encontrado na literatura é uma referência à cidade de Amsterdam, no início dos anos 90. Essa referência foi feita a um Plano Integrado de Informática que contemplava diversos serviços públicos da cidade naquela época. Os administradores municipais da capital da Holanda tiveram a visão que não seria suficiente dotar o município de soluções tecnológicas modernas e informatizadas, se essas não estivessem conectadas a uma plataforma de interoperabilidade para produzir algo a mais. 

A cidade de Amsterdam entendeu naquela época com seu Plano Integrado de Informática, que os novos serviços digitais ao cidadão precisavam ser considerados e estarem operacionalmente interligados para produzir os ganhos adicionais: 1) Escala econômica no processo de compra dos softwares e hardwares; 2) Aumento da eficiência dos serviços públicos prestados pela gestão municipal como um todo e; 3) Garantia de poder atualizar as tecnologias em vista de suas inexoráveis obsolescências. 

Uma boa forma de entendermos o que a cidade de Amsterdam vislumbrou e aplicou em termos da importância da interoperabilidade entre as diversas soluções digitais, é olharmos para a transformação tecnológica da nossa história recente. 

Nós saímos da Era Industrial e estamos hoje no que os estudiosos chamam de Era da Informação. Desde a década de 70 do século passado, o mundo testemunhou um avanço vertiginoso das tecnologias da informação e da comunicação, assim como de outras tantas tecnologias que têm fundamento no microprocessamento digital de dados. Passamos pelo tempo do Processamento de Dados, da Informatização, da Digitalização e agora entramos num novo tempo: o tempo das Soluções Digitais Inteligentes, portanto soluções convergentes, integradas, interoperáveis. 

Nesse campo de estudo das Soluções Digitais Inteligentes, uma das novidades tecnológicas mais importantes, e ainda pouco difundida, é conhecida como IoT (sigla em inglês para “Internet das Coisas”). IoT pode ser explicada da seguinte forma: na nossa atual Era da Informação, que começou há uns 40 anos, vimos gente conversando com gente pelo telefone, fax, telecomunicação celular e por email; vimos também gente conversando com coisas, através dos comandos ao computador e aos equipamentos digitais. Agora vamos ver coisas conversando com coisas, pela comunicação entre os equipamentos digitais interoperáveis. “Coisas conversando com coisas” é o que chamamos de Internet of Things - IoT (pronuncia-se Aiôtí), ou seja, Internet das Coisas. Vamos exemplificar:

a) Um sistema de emergência de saúde pública conectado a um sistema de controle de mobilidade urbana, permite que no momento em que o motorista de uma ambulância ligar a sirene, um chip desse veículo envie um sinal digital para sensores instalados na rede de iluminação das ruas, “conversando” com os semáforos de forma a permitir a passagem ininterrupta e sem paradas da ambulância até o seu destino final. 

b) Um sensor de proximidade e saturação instalado num container de lixo estacionário de rua vai “conversar” com um sensor de rota instalado num caminhão de recolha, permitindo que o veículo receba essa informação em tempo real e evite se dirigir às ruas onde esses depósitos ainda não estão cheios, economizando combustível, evitando a poluição do ar, poluição sonora, e melhorando o sobre-tráfego de veículos pesados em vias de grande movimento. 

Esses são dois exemplos bem simples de soluções digitais interoperáveis que produzem melhor qualidade de vida para o cidadão e, portanto, transformam uma cidade naquilo que chamamos de Cidade Inteligente. 

Perceba nos exemplos acima que, se não houver interoperabilidade entre esses sistemas, se não houver conversa de coisa com coisa, podemos até ter uma cidade totalmente digital, mas não teremos necessariamente uma Cidade Inteligente. Quase todas as cidades hoje contam com soluções digitais que frequentemente são apenas silos tecnológicos estanques, isolados, não conectados, tecnologias de última geração, mas que isoladamente pouco contribuem para produzir melhores serviços ao cidadão. 

A partir das definições e da análise dos exemplos acima expostos sobre o que é e o que faz uma cidade ser inteligente, chegamos facilmente à conclusão que o que realmente permeia uma Cidade Inteligente e que diferencia uma solução puramente digital de uma solução digital inteligente é a Interoperabilidade Tecnológica.

Interoperabilidade Tecnológica é, portanto, um ambiente onde as diversas soluções digitais produzem uma mais-valia pela conectividade que as une, adicionalmente às valias intrínsecas de suas próprias configurações.

É necessário continuamente reunir formuladores de políticas públicas, representantes de entidades de classe, pesquisadores, cidadãos, tecnólogos e administradores municipais para compartilharmos novos conhecimentos em relação a como transformar uma cidade em uma Cidade Inteligente. 

Numa cidade típica e moderna, quando o planejamento, a administração e governança são operados de forma participativa, inteligente e sustentável, maximizam-se as oportunidades econômicas, minimizam-se os danos ambientais, o ambiente social se transforma positivamente, fomenta-se a criatividade, novos investimentos são atraídos, contribui-se para a formação de capital intelectual, eleva-se a competitividade local, propicia-se mais segurança, mais lazer e mais bem-estar para as pessoas.

Cidades somente se tornam inteligentes quando conseguem enfrentar seus desafios a partir de uma visão de planejamento participativo e integrado, uma visão que busque soluções inovadoras que estejam além do lugar-comum do atendimento isolado das necessidades da população. Cidade Inteligente é aquela onde o cidadão tem qualidade de vida.

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Por Maria Tereza Vellano - Vice-Presidente de Utilities do SCBA 13 out., 2024
Neste artigo, exploramos as principais conclusões do debate que discutiu como a digitalização das utilities, impulsionada pelas mudanças climáticas, está moldando o futuro das cidades e promovendo maior resiliência urbana. A crise climática está transformando a forma como as cidades e empresas lidam com os recursos naturais e a infraestrutura urbana. Em um cenário onde o aumento da temperatura global, eventos climáticos extremos e a escassez de recursos são cada vez mais frequentes, setores essenciais como água, gás e energia elétrica (as chamadas utilities) estão sob pressão para adotar modelos mais sustentáveis e eficientes. Para lidar com esses desafios, as tecnologias digitais emergiram como soluções poderosas, permitindo a otimização de recursos e facilitando o crescimento de cidades inteligentes. A transformação digital, impulsionada pela crise climática, tem se mostrado não apenas uma ferramenta para mitigar impactos ambientais, mas também um motor de inovação. Ao integrar tecnologias como Internet das Coisas (IoT), big data, inteligência artificial (IA) e redes elétricas inteligentes (smart grids), as utilities estão redesenhando a forma como gerenciam e distribuem recursos, enquanto as cidades inteligentes utilizam essas inovações para melhorar a qualidade de vida de seus habitantes. Principais Desafios Apesar dos avanços, a transformação digital nas utilities enfrenta uma série de desafios complexos, tanto tecnológicos quanto estruturais. Entre os mais significativos, estão: Infraestrutura Obsoleta: Muitas redes de energia, água e gás em todo o mundo foram construídas décadas atrás e estão mal preparadas para lidar com as exigências atuais de eficiência e sustentabilidade. Atualizar essas infraestruturas envolve investimentos elevados e planejamentos cuidadosos. Gestão de Recursos Naturais: A escassez de água e as mudanças na distribuição de fontes de energia renováveis criam desafios para o fornecimento estável e confiável de serviços. As variações climáticas tornam mais difícil prever padrões de consumo e de geração de energia, aumentando o risco de interrupções nos serviços. Segurança Cibernética: À medida que as redes se tornam mais digitalizadas, aumenta também o risco de ataques cibernéticos. Garantir a segurança de dados e sistemas críticos é uma preocupação crescente para as utilities e as cidades que dependem de suas operações. Custo e Implementação de Tecnologias: Embora as soluções digitais ofereçam benefícios significativos, sua implementação inicial pode ser cara. Além disso, requer uma força de trabalho capacitada e uma mudança de cultura organizacional para adotar novas formas de operar e tomar decisões. Oportunidades Geradas pela Transformação Digital Ao mesmo tempo, a transformação digital traz oportunidades promissoras para enfrentar os desafios climáticos e remodelar as cidades do futuro. Entre as principais, destacam-se: Eficiência Operacional: A digitalização permite que as utilities monitorem suas redes em tempo real, identifiquem problemas com antecedência e otimizem a distribuição de recursos. Isso resulta em menor desperdício de água e energia, além de reduzir os custos de manutenção e operação. Resiliência Climática: Redes inteligentes (smart grids) e sistemas de IA ajudam as utilities a prever e se adaptar a eventos climáticos extremos, como tempestades e secas, garantindo que os serviços continuem operando mesmo em condições adversas. Além disso, a integração de energias renováveis, como solar e eólica, nas redes urbanas permite uma maior flexibilidade e sustentabilidade. Cidades Inteligentes e Sustentáveis: A conexão entre a transformação digital das utilities e o crescimento das cidades inteligentes é evidente. As cidades que adotam tecnologias digitais conseguem gerenciar melhor o consumo de energia, otimizar o trânsito, reduzir as emissões de carbono e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Sensores IoT, por exemplo, podem monitorar o consumo de água e eletricidade, permitindo que os governos locais ajustem políticas de uso de recursos com base em dados precisos. Engajamento do Consumidor: Com o avanço das tecnologias digitais, consumidores têm mais controle e informações sobre seu consumo de energia e água. Isso incentiva comportamentos mais sustentáveis, como a redução do desperdício e o uso consciente de recursos naturais. Novos Modelos de Negócios e Inovação: As utilities podem explorar novos modelos de negócios baseados em dados, como plataformas de compartilhamento de energia ou tarifas dinâmicas que recompensam o uso eficiente de energia. Startups de tecnologia também encontram um terreno fértil para desenvolver soluções inovadoras que atendam a essa nova realidade. Conclusão A crise climática colocou em evidência a necessidade de mudanças profundas nas estruturas urbanas e nas operações das utilities. A transformação digital, catalisada pelas demandas ambientais, está desempenhando um papel central na modernização desses setores, permitindo uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos. Embora desafios, como a infraestrutura obsoleta e os custos de implementação, continuem sendo barreiras, as oportunidades de inovação, maior resiliência e crescimento das cidades inteligentes são promissoras. Durante o debate os participantes destacaram várias conclusões importantes sobre o papel central da tecnologia e a necessidade urgente de mudanças. A Transformação Digital Não É Mais Opcional . Um consenso entre os debatedores foi que a transformação digital nas utilities deixou de ser uma escolha estratégica e se tornou uma necessidade. As mudanças climáticas estão colocando uma pressão sem precedentes nos sistemas de infraestrutura existentes, exigindo uma modernização rápida. Redes antigas e modelos tradicionais de operação não são mais suficientes para lidar com a variabilidade climática e as demandas emergentes por sustentabilidade e eficiência energética. Eficiência e Sustentabilidade Andam de Mãos Dadas . Os especialistas concluíram que a digitalização não só aumenta a eficiência das operações, mas também promove a sustentabilidade. Tecnologias como medidores inteligentes, redes elétricas autônomas e sistemas de IA ajudam a reduzir o desperdício de água, a otimizar o uso de energia e a integrar fontes renováveis, como solar e eólica, de maneira mais eficaz. Esses sistemas inteligentes permitem uma resposta mais rápida às flutuações climáticas, ajudando a mitigar os impactos de eventos extremos, como tempestades e secas prolongadas. Resiliência Climática é a Nova Prioridade . Os debatedores também enfatizaram a importância de priorizar a resiliência climática nas cidades inteligentes, onde as utilities têm um papel essencial. Foi discutido que, além de reduzir emissões e promover o uso de energias renováveis, as cidades e utilities precisam estar preparadas para lidar com interrupções causadas por eventos climáticos adversos, como blecautes ou a escassez de água. A adoção de tecnologias de monitoramento em tempo real, como sensores IoT e ferramentas de análise de dados, são cruciais para identificar vulnerabilidades e garantir a continuidade dos serviços essenciais. Colaboração entre Setores é Fundamental . Outro ponto unânime entre os debatedores foi que a transformação digital e a resiliência das cidades só serão plenamente alcançadas por meio da colaboração entre o setor público, privado e a sociedade civil. Governos, utilities e empresas de tecnologia precisam trabalhar em conjunto para desenvolver soluções inovadoras e acessíveis que possam ser escaladas de forma eficiente. Além disso, foi ressaltada a importância de políticas públicas claras e de incentivos financeiros para acelerar a adoção de novas tecnologias, garantindo que a digitalização e a sustentabilidade avancem em paralelo. O Papel Ativo dos Consumidores . Por fim, foi abordado o papel crescente dos consumidores na transformação digital das utilities. Com acesso a dados em tempo real sobre o consumo de água e energia por meio de dispositivos inteligentes, os cidadãos podem adotar hábitos mais sustentáveis e participar ativamente na redução da demanda, equilibrando a utilização de recursos naturais. Os debatedores concluíram que a conscientização e a educação dos consumidores serão essenciais para que a transformação digital se traduza em benefícios concretos tanto para o meio ambiente quanto para a sociedade. Em resumo, os debatedores concordaram que a crise climática representa um chamado urgente à ação para as utilities e para as cidades inteligentes. As soluções digitais surgem como a principal resposta, proporcionando maior eficiência, resiliência e sustentabilidade. No entanto, essas mudanças exigem uma abordagem colaborativa, com esforços coordenados entre governo, empresas e cidadãos para transformar as utilities em pilares fundamentais da resiliência climática e do crescimento sustentável das cidades. O caminho está traçado para que as cidades e seus sistemas essenciais evoluam em sintonia com os desafios e as oportunidades do século XXI. Participantes da Mesa de Debates Maria Tereza Moysés Travassos Vellano – VP de Utilities do SCBA - Coordenadora da Mesa Antonio Almeida – Diretor de Soluções Almeida Energy Solution Eduardo Arcas – Head IoT Solutin Latam – Constanta Industrial Gilson Paulillo - Senior Business Development Consultant - Venturus Lucas Molina – Gerente de Desenvolvimento – Everynet Brasil Paulo Roberto de Souza Pimentel - CEO & Founder da Pimentel Smart Grid Utilities Rivaldo de Oliveira Ferreira – Vice- Presidente de Utilities Sonda Sergio Jacobsen - CEO Micropower Energia Severiano Leão Macedo – CISCO Industrial IoT Specialist
Por Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos 5G do ISCBA 17 dez., 2023
A limpeza do espectro tem sido feita em prazos acima das expectativas e vai distanciando cada vez mais a disponibilidade de espectro e a implantação real nas cidades. Embora siga em ritmo acelerado, a implantação do 5G é desigual, principalmente pelo fator econômico. Pesam também fatores estruturais, como a aplicação da Lei das Antenas em cada cidade e a busca de novas aplicações, como a prestação de serviços em Smart Cities. Os novos entrantes começam a desenvolver seus projetos de forma acelerada e se apresenta para eles alguns desafios: projetos enxutos, arquitetura aberta (Open RAN) ou fechada, escolha de fornecedores, estratégia de implantação para além das obrigações, assimetria regulatória, prevista no novo PGMC. A recente aprovação do acordo Winity-Vivo também terá um impacto significativo, tanto na estratégia das entrantes, quanto das incumbentes. Com tantos temas, convidamos para um debate, em 22 de novembro de 2023, alguns dos maiores especialistas no assunto no Brasil, para construir um panorama sobre os reais desafios do 5G no país. Inicialmente, foi bastante elogiado o Edital 5G e seu caráter não arrecadatório, destacando-se a agilidade da implantação pelas incumbentes. Por outro lado, alguns problemas foram levantados, como a necessidade de antenas e as dificuldades das leis municipais, bem como os preços dos Celulares 5G que ainda são elevados. Questionou-se a viabilidade dos novos entrantes, contra incumbentes já estruturadas e atendendo velozmente o mercado, apontando-se, ainda, que a solução para o desenvolvimento das aplicações no 5G é a “desverticalização”. Outros dois importantes aspectos foram destacados: o papel dos novos entrantes na competição nacional e a mudança na regulamentação para a garantia de acesso ao espectro, em caráter secundário. Foi enfatizado a importância da manutenção das assimetrias também no ambiente móvel (SMP). Assimetria como um conceito a ser adequado ao 5G, por exemplo, no uso e compartilhamento de espectro, mercado secundário, de modo a conferir segurança jurídica aos entrantes e demais ISPs, assim, foi sugerida a criação de um banco de dados acessível a todos com as disponibilidades de espectro. Um dos questionamentos foi se a indústria sabe o que realmente quer com o 5G e até que ponto os integradores devem/podem ser os indutores de inovação. Porém, a escassez de mão-de-obra é um problema para o desenvolvimento da inovação. Foi apontado, ainda, que as tecnologias inovadoras são fatores de aceleração e desenvolvimento das redes 5G, tais como as redes abertas, que propiciam vantagens competitivas, sendo necessária a criação de políticas públicas que incentivem a utilização de novas tecnologias, auxiliando as forças de mercado no desenvolvimento do 5G. Um exemplo apontado foi a luminária da JUGANU (com fentom cell 5G), como uma inovação e a importância da coordenação dos atores (Indústria - ABDI) para acelerar as inovações. Outro ponto destacado é que os grandes beneficiários das redes 5G são a Indústria Nacional, o Agro e a Saúde, sobretudo em função da latência. Por isso, as empresas têm de desenvolver a capacidade de ouvir o que a Indústria precisa e desenvolver novos modelos de negócio. Como exemplo foi citado o Polo de Indústrias de Manaus, que tem capacidade média de conectividade em torno de 50Mbps, para entender que o problema não é tecnologia, mas a conectividade. Porém, o Edital 5G não requereu performance, e sim, cobertura. Foi destacado o resultado de uma pesquisa que mostra que 60% das empresas entendem a importância do 5G, mas somente 2% estão analisando a possibilidade de utilização/implantação de soluções em 5G e 30% aguardam por modelos de negócio que possam se adequar às suas necessidades. O Presidente da Brisanet, Roberto Nogueira, deu um importante depoimento sobre o dia seguinte ao Edital do 5G e as dificuldades inerentes à escolha do fabricante, da tecnologia do core de rede e os terminais. Ele informou ter optado por uma tecnologia vertical, por segurança e por lançar o 4G e 5G ao mesmo tempo, na mesma ERB. Em sua análise, o 700 MHz não é essencial pelo adensamento da rede e por ter o 2,3 GHz. Para ele, o grande problema são os compromissos de cobertura em cidades com menos de 30 mil habitantes onde os prefeitos não têm consciência da importância das infraestruturas. Disse, ainda, que a Brisanet já tem cobertura para 4 milhões de acessos potenciais e vai acabar 2023 com torres em 30 cidades, mas seu objetivo é monetizar com o SMP, num primeiro momento, para somente depois pensar em novos modelos de negócio. As empresas têm de estimular/contratar/fazer parcerias com “Desenvolvedores de Aplicações”, a fim de encontrarem soluções disruptivas para agregar valor aos seus negócios. Apps, como Uber, iFood, entre outras, foram criadas por startups, algo difícil de acontecer em uma empresa de telecom, embora elas tenham demonstrado esforços para mudar a situação. Poucos municípios têm boa gestão e por isso a maioria não consegue compreender os benefícios da conectividade. É necessário um veículo para educar os prefeitos sobre a importância deles facilitarem a conectividade com o 5G, já que ela pode trazer grandes benefícios à população, ampliando o acesso a vários serviços. Foi destacado o papel do FUST, que está finalmente oferecendo financiamento aos ISPs, via BNDES e que podem, ainda, ser utilizado para expansão do 5G, desde que não seja para financiar as obrigações contratuais. Acredita que os remédios VIVO e Oi sejam suficientes para incentivar a competição, lembrando que as decisões têm um gatilho de eventuais novas medidas em 60 dias, caso as estabelecidas não surtam os efeitos esperados. Os três grandes eixos do 5G (velocidade, baixa latência e aplicação massiva), mais cedo ou mais tarde, terão grande relevância e aplicação nas indústrias, com aplicações de automação industrial, redes privativas, etc. O sucesso do Edital e da implantação parcial é uma realidade, mas é preciso garantir o sucesso nos resultados, quando da implementação em todo o país. O Edital 5G não tem similaridade no mundo pela quantidade de espectro e o sucesso dos novos entrantes depende da eficácia dos remédios VIVO e Oi, implementados pela Anatel e que eles são importantes para o equilíbrio na competição entre incumbentes e entrantes. O novo PGMC deve também trazer assimetrias semelhantes às implementadas na banda larga fixa que fez com que o mercado de ISPs crescesse exponencialmente, sendo o Brasil um caso único no mundo. Como conclusão, as intervenções dos debatedores mostraram que é necessário: (i) incentivos aos entrantes, sob forma de assimetria regulatória, remédios e financiamento; (ii) incentivos ao desenvolvimento de tecnologias e integradores; (iii) mudança de postura dos administradores municipais para facilitar a implantação de infraestrutura e (iv) entendimento pela indústria, agro, cidades, entre outros segmentos, do potencial do 5G para incrementar seus negócios. Artigo escrito por: • Caio Bonilha - Vice-Presidente de Assuntos para 5G do ISCBA Participantes da Mesa de Debates: • Anibal Diniz - Consultor da NEO • Arthur Coimbra - Conselheiro da Anatel • Cristiane Sanches - Conselheira da Abrint • Juarêz Quadros - Head do JMQN Advisors • Daniel Brandão - Coord. Ger. Pol. Serv. Telec. do Ministério das Comunicações • Milene Pereira - Gerente Sênior de Governo da Qualcomm Brasil • Roberto Nogueira - Presidente da Brisanet • Tiago Fairstein - Gerente de Novos Negócios da ABDI
Por Maria Tereza Moysés Travassos Vellano - CEO da Vellano Smart Energy Consultoria 16 ago., 2023
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